Há um tempo atrás tive um sonho: reunir os meus colegas do Colégio Pitágoras.
Mas como fazer isso? Afinal, depois de quase 30 anos, eu não tinha mais contato com nenhum colega.
Fui à luta, pesquisei na internet, procurei, liguei para um e para outro, enfim comecei a transformar o meu sonho em realidade.
Assim , em fevereiro de 2010 tivemos o nosso primeiro encontro no Restaurante 68.
Foi uma noite emocionante, alegre, cheia de doces lembranças, muitas risadas e até lágrimas ( minhas é claro).
No dia 17 de março de 2012 tivemos o nosso terceiro encontro. Parecia que o tempo não tinha passado e que somos ainda éramos aqueles adolescentes alegres, despreocupados,cheios de vida e de esperança.
Foi assim que eu me senti.
Nosso colega Heráclito escreveu um texto maravilhoso que descreve bem a mistura de emoções e sentimentos que sempre cercam nossos encontros, agora já esperados com ansiedade a cada ano.
Segue o texto do nosso querido colega, com a devida permissão para publicá-lo no meu blog.
Com o texto do Heráclito, homenageio aqui cada colega e amigo, que assim como eu, nesses três encontros memoráveis pode perceber e sentir tudo aquilo que o tempo não é capaz de apagar: a amizade pura de uma geração que viveu intensamente os tempos do colégio.
VIVER E
REVIVER
Antes
de tudo a sensação :
o
tempo não passou.
Simplesmente
congelou.
A
percepção foi que entrei em uma espécie de câmara de nitrogênio, ficando em
sono profundo e, depois de 30 anos,
reacordado do coma induzido.
Ainda
me recobrando do transe, fiquei perplexo com o que vi. Entrando no local da
festa fiquei impressionado. Assim como um menino que volta a loja de brinquedos
que, eventualmente visitava, nas datas especiais e festivas.
Como
pode isso ocorrer ?
Me perguntava atônito.
Mais
de 30 anos se passaram.
E
era como se não houvesse existido este hiato temporal.
Voltou
à minha memória o meu tempo de adolescente pelos pátios e corredores do colégio
Pitágoras.
E
tive a certeza: são aquelas mesmas pessoas que frequentavam aquela escola.
Sem
dúvida, as mesmas.
As
lindas mulheres presentes desafiavam todas a leis da natureza e mostravam,
impecavelmente, toda exuberância e beleza que povoam o habitat feminino. Não
andavam, simplesmente flutuavam e deslizavam por entre os homens presentes, que
perplexos simplesmente observavam a elegância das mesmas. Desfilavam e enchiam
o ambiente com suas presenças.
Algumas,
por morarem em região conhecida (rua Marquês de Maricá), já haviam recebido o
título de Marquesas. Mas sem invalidar o título anterior, outras presentes, pela beleza e elegância
fariam inveja a baronesas , duquesas e outras
realezas merecendo o título de nobreza, que ainda não receberam em vida.
Os homens, se alegravam com os causos contados pelos amigos. Se perdiam a gargalhar. Juntavam estórias de
ontem e hoje numa linguagem toda
própria, quase um dialeto. Poderíamos
dizer que falavam em Pitagorês. Desta forma, estes “causistas
juramentados”, transformavam fatos trágicos e complicados,
felizmente já passados e superados, em alegres e divertidos feitos dignos de
super heróis modernos.
E isto ocorria de maneira
muito singular, como se a inversão de valores verbalizada fosse a máxima do
dia. Assim, o contador de casos, minimizava seus atos heroicos, por resoluta
modéstia e mineiriçe e maximizava os feitos e fatos supérfluos, por simples
vaidade do orador.
Quando me lembro do pátio do
Pitágoras sei que o tempo passou. Quando
olho para vocês, sinto que não.
Relembro de cada detalhe.
De cada momento daquela
época.
Dos dias ensolarados e do
cheiro dos flamboyants floridos na porta da escola.
Dos amores juvenis que,
mesmo depois de mim separados, me acompanharam por grande parte de minha vida, apertando
meu coração de saudades e belas lembranças.
Saudade comprimida dentro do
peito.
Uma dor solitária. Aguda.
Por isso voltar no tempo é
sempre algo entre sofrido e alegre, divertido e melancólico, prazeroso e lacrimoso, sério e irônico. Mas só o ser
humano é capaz de reviver o passado. Obter as mesmas sensações já vividas.
Relembrar e ao mesmo tempo reviver tudo o que passou. Sentindo cheiros, enxergando a cena, sentindo
o vento no rosto e o toque na pele.
Se, como diria Guimarães
Rosa: “viver é muito perigoso”, reviver é ainda mais.
Daquele menino pequenininho.
Magrinho.
O mais novo da turma.
Muito obrigado a todos
vocês.
Foram excelentes anos de
convivência.
Heráclito Miranda